sábado, 3 de outubro de 2015


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Após fechar um acordo nuclear com grandes potências, incluindo os EUA, os principais líderes do país —o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente, Hasan Rowhani,— passaram a difundir visões nitidamente opostas sobre o futuro do Irã, refletindo atitudes divergentes em relação ao chamado “Grande Satã”.
“Não vamos negociar com os americanos sobre qualquer tema senão o nuclear”, disse Khamenei recentemente. Por outro lado, Rowhani afirmou que o acordo nuclear não representava “o fim do caminho”, mas o “início da criação de uma atmosfera de amizade e cooperação com vários países”.
Independentemente de como os líderes resolvam suas divergências, o bode expiatório favorito do Irã não poderá mais ser culpado por todo o mal que assola o país.
“Sem sanções, nosso Grande Satã não é o mesmo”, comentou o economista Saeed Laylaz, partidário de Rowhani. “Quem sabe devêssemos falar em ‘Pequeno Satã’ ou algo assim.”
Os setores que anseiam que o país tenha relações normais com o mundo acham que a hora finalmente chegou, independentemente do que o líder supremo esteja dizendo. Para eles, o aiatolá Khamenei está protegendo sua retaguarda política contra os clérigos e comandantes que são contra o acordo nuclear.
Para outros, porém, isso seria uma visão otimista das motivações e intenções de um líder todo-poderoso que ainda é uma força altamente conservadora.
Segundo esses outros analistas, não há sinais externos de que Khamenei veja a aproximação entre Irã e Estados Unidos com entusiasmo. Desde agosto, o aiatolá vem aproveitando cada fala pública para deixar claro que não haverá reconciliação.
“O acordo foi único ao atender nossos interesses”, disse Hamidreza Taraghi, analista de linha dura associado de Khamenei. “Mas ele não representa uma tentativa de reatar com os EUA.”
Seja qual for seu efeito sobre as relações externas, a desconfiança que Khamenei nutre em relação aos EUA vem lançando uma sombra cada vez maior sobre as ambições de Rowhani, que são sujeitas ao veto do líder supremo.
Nos últimos dois anos, o presidente, que chegou ao poder prometendo acabar com o isolamento internacional do país, elevou as expectativas da classe média.
Logo após a assinatura do acordo nuclear, alguns setores em Teerã pediram a abolição do slogan “morte à América” e previram a reabertura da embaixada norte-americana. Porém, nenhuma das sugestões teve boa acolhida.
Muitos dizem que Rowhani deveria se contentar em ter evitado uma guerra em torno do programa nuclear, descongelado os ativos do país e aberto as portas a investimentos estrangeiros. “Na verdade, essa sempre foi a tarefa da qual o presidente foi incumbido”, comentou um jornalista pró-governo, Nader Karimi Joni.
No entanto, o presidente persevera, prometendo melhores relações com o Ocidente, uma economia mais forte e mais liberdade pessoal.
A despeito da linha dura assumida por Khamenei em público, alguns analistas dizem que o aiatolá apoia Rowhani mais do que deixa transparecer publicamente e que está apenas sendo cauteloso caso alguma coisa dê errado.
Muitos iranianos —possivelmente a maioria— têm poucas expectativas de que o acordo nuclear possa levar a quaisquer transformações fundamentais. Para o jornalista Karimi Joni, não haverá abertura de embaixadas, voos diretos a Nova York ou investimentos americanos no Irã.
Outros estão convencidos de que as relações com os EUA foram alteradas de modo permanente.“Não importa o que digam, a América é menos inimiga do que era antes”, disse Ghasem Golbaf, dono de várias revistas. “A relação vai mudar para melhor. É inevitável.”

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