sábado, 10 de outubro de 2015


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Horas depois que o presidente Recep Tayyip Erdogan criticou um importante jornal local, um bando furioso se dirigiu à sede da publicação, onde destruiu janelas, proferiu insultos e tentou invadir o prédio.
Dois dias depois, enquanto o governo mantinha silêncio sobre o episódio, Erdogan atacou o jornal pela segunda vez, criticando seus funcionários por supostamente distorcerem suas palavras em uma postagem no Twitter. Esse ataque produziu uma segunda onda de protestos violentos, levando o editor do jornal a fugir do edifício e a fazer um pedido ao vivo pela televisão de intervenção policial.
“Sou jornalista há 40 anos, e é a primeira vez que sou submetido a um ataque envolvendo paus e pedras”, disse Sedat Ergin, editor-chefe do “Hurriyet”, um dos mais influentes jornais da Turquia. “Se nosso jornal está sendo fisicamente atacado pela segunda vez em 48 horas por grupos violentos, devemos admitir que é uma questão de segurança para nossa vida.”
Os ataques fazem parte de uma campanha crescente de intimidação contra a mídia de oposição no país. Recentemente, três jornalistas estrangeiros foram deportados da Turquia; dezenas de pessoas foram investigadas por acusações de insultar o presidente; e uma revista e organização de mídia de oposição foram invadidas, com alguns de seus executivos investigados por acusações de terrorismo.
Mesmo para a Turquia, conhecida por ser um ambiente hostil para jornalistas e estar em 149º lugar entre 180 países no índice de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, as batidas foram ferozes, demonstrando uma nova tendência de ataques violentos inspirados por políticos turcos.
“O constante declínio da Turquia em liberdade de imprensa se acelerou desde o mês passado”, escreveu em um e-mail, em setembro, a coordenadora de programa para Europa e Ásia Central do Comitê de Proteção a Jornalistas, Nina Ognianova.
Um dos líderes do primeiro protesto contra o “Hurriyet”, em 6 de setembro, foi Abdurrahim Boynukalin, deputado do Partido Justiça e Desenvolvimento, no governo. Em um discurso diante dos escritórios do jornal, ele prometeu fazer de Erdogan um presidente poderoso ao garantir que seu partido ganhe a maioria absoluta na próxima eleição em novembro.
Em um vídeo que veio à tona depois do episódio, Boynukalin é visto falando com um grupo de seguidores, lamentando-se por não ter atacado antes os jornalistas do “Hurriyet”. “Nosso erro foi não os ter espancado mais cedo.”
Jornalista a favor do governo participaram da campanha de difamação. Em uma coluna no mês passado, Cem Kucuk, do jornal “Star”, acusou o veterano colunista do “Hurriyet” Ahmet Hakan de apoiar rebeldes curdos que combatem as forças do governo na instável região sudeste do país. “Poderíamos esmagá-lo como uma mosca, se quiséssemos”, escreveu Kucuk. “Fomos misericordiosos até hoje e você continua vivo.”
O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu manifestou sua desaprovação ao ataque ao “Hurriyet”, mas grupos de direitos da mídia criticaram o governo por demorar a dar uma resposta.
Analistas dizem que a tática de intimidação parece estar funcionando. Alguns veículos passaram a censurar a cobertura da escalada de violência no sudeste curdo por medo de serem processados por terrorismo. Apesar disso, depois dos ataques ao “Hurriyet”, a presidente do jornal, Vuslat Dogan Sabanci, reuniu a equipe editorial e prometeu continuar produzindo jornalismo independente. “Nossos leitores devem saber uma coisa: sofrer ataques de intimidação por grupos que usam paus e pedras não vai nos assustar”, disse ela.

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