sábado, 7 de novembro de 2015


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Os adolescentes palestinos que entravam na loja de presentes e música True Love faziam todos o mesmo pedido: canções nacionalistas —e das novas.
O proprietário prontamente lhes mostrava os CDs que acabara de arranjar no balcão, como “Jerusalém Está Sangrando”, que traz a faixa “It’an, It’an” [Apunhale, apunhale] —com seu poderoso ritmo pulsante.
“Quando escuto essas músicas, fervo por dentro”, disse o jovem Khader Abu Leil, 15, explicando que a batida forte do “backbeat” o ajuda a se preparar para as manifestações quase diárias em que atira pedras contra soldados israelenses.
Inspirados por uma onda recente de ataques de palestinos contra judeus de Israel e choques mortais com as forças de segurança israelenses, músicos da Cisjordânia e de outros lugares produziram dezenas de canções militaristas, muitas vezes violentas.
Publicadas e compartilhadas no iTunes e no Facebook, elas formam uma espécie de trilha sonora da intifada, ilustrada por vídeos que incluem imagens terríveis de fatos recentes.
“Apunhale o sionista e diga que Deus é grande”, declara uma faixa, referindo-se à série de ataques a faca cometidos desde 1º de outubro. “Que as facas apunhalem seu inimigo”, diz outra.
Uma terceira é chamada “Continuem a Intifada” e vem com uma advertência no YouTube —o vídeo mostra a mulher palestina que puxou uma faca em uma estação de ônibus de Afula cercada por soldados israelenses apontando armas.
“Resista e carregue suas armas”, diz a canção. “Diga sim e seja um mártir.”
Adnan Balaweneh, o compositor por trás de “Continuem a Intifada” e de outras quatro canções recentes, disse que, quando ele viu “os soldados atirarem contra a garota em Afula”, pela televisão, imediatamente sentiu “que precisava compor algo para armar o povo palestino”.
Os palestinos têm uma tradição de música de protesto que vem de suas rebeliões contra os britânicos nos anos 1930.
Durante a guerra em 2014 entre Israel e militantes da faixa de Gaza, comemorações rítmicas dos ataques de foguetes contra Tel Aviv jorraram dos rádios de carros em todo o território litorâneo.
Vários especialistas dizem que a escala e o estilo das novas músicas palestinas são incomuns, alimentados —como a própria rebelião— pelas redes sociais. Alguns elogiaram as canções como uma forma criativa e construtiva de resistência a Israel, enquanto outros disseram que são musicalmente fracas e só dão mais força às denúncias de incitamento feitas pelo inimigo.
“Para mim, atirar pedras na primeira intifada foi uma forma de expressão”, disse Ramzi Aburedwan, que ficou famoso ao ser fotografado quando menino atirando uma pedra em 1988 e hoje dirige escolas de música em campos de refugiados palestinos. “A ferramenta foi a pedra na primeira intifada, e hoje é a música.”
“Som e palavras refletem a situação”, acrescentou Aburedwan. “Não posso fazer uma canção falando sobre a natureza, a beleza e coisas pacíficas, quando vejo todos os dias mais de dez vídeos em que jovens são executados.”
Mas Basel Zayed, compositor, artista e musicoterapeuta de Jerusalém Oriental, criticou a instrumentação das novas canções, por “usarem o mesmo trecho de um ritmo e apenas repeti-lo”, e suas letras como “não muito expressivas, as palavras principais são provavelmente ‘matar’ ou ‘fazer’ ou ‘bombardear’ ou ‘explodir’”.
“Foi feito como uma reação, e é uma pena, pois passa uma imagem muito negativa de como os palestinos podem se expressar”, acrescentou. “Eu não acho que fazer uma canção tão depressa serve à nossa mensagem da melhor maneira. É bom deixar as coisas se firmarem. Quando você está dentro do trauma, não sabe realmente o que está lhe acontecendo.”
Novas canções surgem diariamente on-line todos os dias, muitas de artistas pouco conhecidos e com baixo valor de produção —o vídeo no YouTube de “Intifada of Knives” (Intifada das facas) é uma colagem crua que mostra o Domo da Rocha com fogo por baixo e um homem com um “kaffiyeh” (lenço xadrez) cobrindo seu rosto, segurando um estilingue. No final, uma adaga se tinge de sangue. Várias palavras simplesmente pronunciadas se sobrepõem à percussão árabe.
Balaweneh, 37, pai de três filhos, trabalha diariamente compondo para uma banda de música no estilo militar da Autoridade Palestina.
Ele também atirou pedras na primeira intifada. Na segunda, que começou em 2000, disse que participou “com meus poemas e minhas canções”. Hoje, faz casamentos e eventos políticos com seu trio, A Tempestade, baseado na cidade de Nablus, na Cisjordânia.
“Nossas canções não dizem para as pessoas praticarem ataques, elas se concentram em lhes dizer que defendam seus direitos, seu país, sua terra”, explicou Balaweneh. “Hoje, por causa da situação atual, nossas canções precisam conter muita ação, para fazer o sangue fluir e ferver.”

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